Depois dos dezoito por Camila Paier


Você vai aguardar esse dia como se fosse único. Como se na próxima manhã, você fosse acordar, colocar um terninho, começar a autoescola, ser super independente. Ou quem sabe, pegar o carro, sair de casa e mudar de país. Que nada, tudo mentira. Baita ilusão. A vida não muda radicalmente, e o tão aclamado motor 1.8 muitas vezes não alavanca subidas tão promissoras assim, logo de cara. Pode haver uma festinha particular, você pode dormir na casa do bofe, e mesmo, perder o celular. Vai continuar levando esporro de pai e mãe, se com eles morar - chegará uma hora em que não terá pra onde fugir. Só vai haver mais pressão pra que você dirija logo, arrume um estágio e saia, mas diga sempre onde e com quem vai. A que horas volta, já parece ter ficado no passado, na maioria das vezes. Sobre namorado, o papo continuará o mesmo. Nas reuniões da família, a mesma questão: cadê o moço? Nem adianta tentar explicar que não existe. Melhor mesmo é silenciar, e sorrir, até que o alvo vire algum outro primo seu que, mais velho que você, também não apresenta ninguém para a família. Você acordará, e terá um ano a mais quando calcularem a sua idade, pelo ano. E só. Aquela enorme ansiedade pra que esse dia logo chegasse, aos poucos, se mostra falha; irreal. Nenhuma mudança física, quase nulas as alterações psicológicas. A carteira falsa de identidade (ou daquela amiga da sua amiga, que fez uma nova e a presenteou com a antiga) se aposentará. A glória sairá de mãos dadas com você quando pela primeira vez, num bar ou supermercado, puder comprar bebida alcoólica sem nenhum medo ou pudor. O make não precisará mais ser tão carregado, pois claro: não existe mais porque aumentar a idade. Agora, não há mais o que provar, para ninguém. Inimputável não mais, há o que ser retirado e cobrado, sem ser devidamente agraciado. Contudo, é a vida. Já não dançamos mais a valsa da idade da moça, os quinze anos, há centenas de dias. E cuidado, porque agora a prisão pode sim complicar. Desde que não seja da alma e pensamento, do espírito e sentimento, tudo livre: melhor assim. Há um ano, vivia eu a ansiedade de ser maior de idade. E foi um dos momentos mais lindos e felizes que já vivi, até aqui. Mal sabia eu, que precisaria de uma força quase senhorio para seguir em frente e pular com os dois pés nos dezenove. É logo ali, daqui alguns dias. Bom que os pés estejam em dia, pintados, limpos e descansados, porque a caminhada é longa e até agora, por mais que pareça muito, pouco realmente se andou. O que importa é a terra à vista e o mundo ainda a ser desvendado: imenso. Tão extenso pro nossos nem vinte, e só poucos, anos.
 

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